Bicho em perigo

O presente volume reúne um conjunto de 83 poemas, além de um prólogo e de um epílogo, em que o sujeito de enunciação se dirige diretamente aos animais ou fala deles, elegendo um por poema. Em diversos poemas estão presentes alguns traços humorísticos, em alguns casos manifestando uma visão tendencialmente antropocêntrica do mundo - por exemplo, classificando como "fazer mal" o comportamento do mosquito pelo facto de este picar os humanos.

Noutros poemas, os animais surgem humanizados, com traços semelhantes aos humanos e comportamentos típicos, denunciando alguma injustiça relativa, na medida em que exigimos para nós o que lhes negamos a eles: é o caso da vaca que resolveu fazer greve e se foi manifestar para o Parlamento, reclamando que produzia um bem - o leite - sem que isso lhe fosse pago.

A denúncia dos comportamentos humanos censuráveis surge ao longo de toda a obra, no lamento da perda de habitat do lince, no alerta para a necessidade de deixarmos de ver o oceano como um caixote de lixo nos poemas dedicados ao pelicano e ao peixe-espada, na configuração do grilo como um prisioneiro na sua gaiola, ou no deplorar da condição do touro, que "foi morrer na praça / frente à multidão,/ ao som de uma banda...", por exemplo.

Não deixa de assumir alguns dos estereótipos que se ligam aos animais: a coruja encontra-se ligada ao conhecimento, o peru é emproado, o cuco anda apressado, a raposa é matreira, etc.

Do ponto de vista formal, os textos caraterizam-se pelo recurso dominante à quadra, à redondilha e às rimas tradicionais, explorando os seus efeitos sonoros e rítmicos.

O volume inclui algumas ilustrações a preto e branco, quase todas apostadas na recriação fiel do animal aludido no poema.

Estas estratégias de referenciação de um grande e diversificado conjunto de animais, desde a minhoca ao sável, passando pelo leopardo ou pela pulga, têm o potencial de os evocar e de sobre eles lançar um olhar, no mínimo, um pouco curioso e, em alguns casos, diferente do habitual. O objetivo assumido no Prólogo, terá sido o de mostrar que "alguns bichos/ - como nós -/ fazem coisas surpreendentes", que "são seres inteligentes" e lutam pela "sobrevivência", configurando-os como iguais ao homem nesse aspeto.

Ramos, R. & Ramos, A. M., 2014 

Atualizado em 17 MARÇO 2022
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