De sol a sonho

A coletânea de poesia De Sol a Sonho agrupa um conjunto variado de poemas do autor de Um bobo para o reino, percorrendo temáticas e motivos ligados à natureza, aos animais, às plantas e aos frutos, explorando com expressividade e intenções lúdicas jogos de palavras e de conceitos. Os textos, muitas vezes de primeira pessoa, dão conta da surpresa e do espanto do sujeito poético perante a realidade, inquirindo-a nas suas diferentes facetas. A natureza e, em particular, os animais oferecem um espetáculo deslumbrante de mistério e beleza, como exprimem poemas como «O Camaleão», «A Travessia», «Enganos», «As Asas de um V», entre outros.

Os elementos da natureza, em particular as espécies vegetais e animais, são transformados em agentes e protagonistas dos textos, reivindicando direitos, autonomia e respeito e promovendo, assim, uma forma alternativa de os pensar, de os configurar e de os integrar na vida de cada um. «O Plátano», por exemplo, ganha voz para se lamentar, num registo bem-humorado, dos maus tratos dos animais e das crianças que o transformam em casa de banho pública; em «A Queixa da Macieira», assistimos a uma espécie de reclamação da árvore pela falta de cuidados, razão que, no seu entender, explica a fruta amarga que produz.

A relação do homem com a natureza é recriada em vários textos, configurando, em vários deles, uma exploração dos seus bens em proveito próprio, de forma antropocêntrica e utilitarista. Desequilibrada e injusta, carateriza-se pelo facto de considerar a natureza como uma fonte inesgotável de produtos que aquele usa sem regras. Deste modo, os textos parecem alertar para a necessidade de uma relação alternativa, mais equilibrada, onde os elementos naturais sejam devidamente protegidos e valorizados. No poema «Melros e Figos» a relação entre as aves e os frutos configura um equilíbrio no qual não é permitida intromissão humana, nem sequer sob a forma tentada. Por seu turno, Inês, no poema «Inês e as Formigas», acaba por interferir na "discussão" entre os insetos, dividindo em duas uma migalha pela qual duas formigas lutavam.

Com ilustrações de Yara Kono, o livro ganha coesão, aumentando significativamente o seu impacto global. Caraterizadas pela forma como exploram o jogo que resulta da combinação de formas simples e fundos padronizados, as imagens revelam uma estudada ingenuidade, tirando partido da unidade cromática e dos jogos com sobreposições.

Ramos, A. M. & Ramos, R., 2010 

Atualizado em 17 MARÇO 2022
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