A árvore generosa
Esta narrativa linear, seguindo um fio cronológico
sequencial, desenvolve-se em torno de duas
personagens, um menino e uma árvore, e do amor que os unia. A árvore
era animada de sentimentos humanos e sentia-se feliz por a criança
brincar em seu torno e nos seus ramos e comer os seus frutos, que
oferecia generosamente. Mas o menino cresceu, transformou-se em
adulto, afastou-se e, mais tarde, quando voltou à companhia da
árvore, não foi para brincar junto dela, mas para lhe pedir mais e
mais. A árvore, sempre generosa, tudo lhe foi oferecendo: os frutos,
os ramos e até o tronco, até se tornar somente num "velho toco" -
que, mesmo assim, o menino, agora envelhecido, usou como banco, para
se sentar e descansar.
E, mais uma vez, "a árvore ficou feliz", como sempre ficava quando podia servir o seu amigo humano.
A felicidade do menino / adulto, contudo, era de outro tipo, mais centrada em si e na satisfação dos seus desejos.
Alegoria da relação entre o homem e o ecossistema, esta narrativa retrata uma visão antropocêntrica da natureza: fonte de recursos, fonte de bem-estar, fornecedora de tudo quanto o homem deseja, ou não fosse este o centro do mundo - ou, na imaginação do menino, "o rei da floresta". Encerra, contudo, com uma nota de tristeza, pela destruição que o homem opera no seu meio, até (quase) nada haver. Proporciona, desta forma, um pretexto para a reflexão sobre a relação de cada indivíduo com o mundo natural.
As ilustrações, muito simples, exploram toda a
expressividade do traço do autor, jogando com a dramaticidade do
contraste entre o preto e o branco. Além disso, colaboram na
sugestão da passagem do tempo, recriando, com pormenor, muitos
elementos que permitem ler as transformações ocorridas nas
personagens, mas também no meio onde se movem. Além disso, são a
imagem de marca do seu criador, mantendo-se intemporais e
reconhecíveis ao longo de várias décadas e diferentes gerações de
leitores.
Ramos, R. & Ramos, A. M., 2011