A girafa que comia estrelas
Esta narrativa revela afinidades com os contos
inseridos na coletânea Estranhões & Bizarrocos [estórias para
adormecer anjos] (2000), do mesmo autor, no que diz respeito à
revisitação da temática animal, quase de teor fabulístico, imbuída
de maravilhoso. O conto trata, entre outras, da questão da amizade
entre seres de espécies diferentes e de hábitos e gostos distintos,
cuja relação é pautada por um enorme respeito mútuo e por uma grande
tolerância.
Alguns dos valores evocados, assim como das práticas dos protagonistas (como o facto de uma girafa comer estrelas), e sobre os quais a narrativa se desenvolve, parecem deslocados no quadro de eventuais propósitos de ecoliteracia. O desenho mínimo das relações sociais entre os animais intervenientes é decalcado das sociedades humanas, portanto desajustado daquela que é a realidade natural configurada. Contudo, o desenvolvimento da narrativa mostra como é grande a dependência dos animais e das plantas face às condições ambientais, como todos estão ligados numa cadeia de causas e consequências, o que se orienta para a consciencialização dos leitores virtuais desse tipo de relações entre todos os elementos dos ecossistemas.
A ilustração alterna entre a ocupação de páginas simples e a dupla página, que surge em três momentos distintos, captando circunstâncias decisivas do desenrolar da acção. A ilustração das guardas retoma o fundo da capa, representando um céu estrelado e logo uma cena nocturna que é inesperadamente representada por uma tonalidade azul clara.
Ramos, A. M. & Ramos, R., 2010