A poupa poupada
Narrativa de enredo simples e não particularmente
original, acerca de uma criança que captura uma poupa e a prende
numa gaiola, para depois descobrir que a ave se sente infeliz e
acabar por libertá-la. Os seus propósitos de defesa dos animais são
explícitos, assim como a configuração do meio natural como espaço de
fruição amena. A referenciação dos diversos tipos de árvores que
habitam um pequeno bosque junto das casas das personagens, assim
como de algumas das suas caraterísticas, tem o potencial de
contribuir para a consciencialização dos leitores acerca das
especificidades daquelas espécies naturais e da complexidade daquele
tipo de ecossistema, ainda que essas caraterísticas sejam
focalizadas do ponto de vista da sua utilidade imediata para as
personagens. O facto de partir de uma experiência comum e próxima
às crianças ou por estas reconhecível (porque têm pássaros em
gaiolas ou gostariam de os ter) afigura-se positivo na proposta de
questionamento que decorre da retórica desta narrativa. Em concreto,
questiona-se o balanço entre, por um lado, o que, do ponto de vista
humano, seria a comodidade e a longevidade de uma vida passada numa
gaiola e, por outro lado, uma vida de feliz liberdade.
O registo verbal incorpora muitos termos e estruturas sintáticas pouco usuais em crianças, tornando o discurso pouco natural. Infelizmente, o texto apresenta alguns erros.
As ilustrações, com recurso a uma técnica mista, que inclui pintura, recorte e colagem de elementos e objetos diversificados, procuram recriar os momentos mais importantes da narrativa, prestando especial atenção às emoções e estados de espírito das personagens e dando conta da forma como variam ao longo do tempo. Concebido como um objeto coerente, da capa à contracapa, incluindo as guardas e a sua funcionalidade, o livro destaca-se pela qualidade visual e expressividade das imagens, fiéis à linguagem plástica do seu autor e capazes de atrair o leitor, completando o texto.
Ramos, R. & Ramos, A. M., 2010