Foz Côa entre céu e rio

Esta obra encontra-se integrada na coleção «Pintar o verde com letras», resultado de uma iniciativa da Direção Regional de Cultura do Norte, «que lançou a um conjunto de escritores e ilustradores o desafio de criarem histórias que tivessem algumas das áreas protegidas daquela zona do país como lugares de inspiração e os seus habitantes, a sua fauna e flora como personagens» e que assumiu explicitamente a intenção de contribuir para o desenvolvimento cultural e a literacia ecológica dos leitores.

O espaço recriado, neste caso, é o do Parque Arqueológico do Vale do Côa, reconhecido pelas suas gravuras rupestres do Paleolítico Superior, de grande importância cultural, artística e etnológica.

O leitor encontra neste livro uma narrativa contemporânea, na qual se inscrevem três narrativas encaixadas, retratando aspetos da ocupação humana daquela zona do território nacional. A narrativa principal constrói a experiência de descoberta da narradora daquela realidade, num tom intimista, e as narrativas encaixadas relatam três experiências de vida marcantes para três personagens separadas por largos períodos de tempo - sendo uma deles um suposto habitante do Vale no Paleolítico, que teria gravado num dos rochedos de xisto uma das figuras de animais que ainda hoje perduram. A escrita é muito cuidada e a articulação com as ilustrações resulta numa obra de grande qualidade literária e plástica. João Caetano, responsável pelas ilustrações, utiliza uma técnica mista para recriar motivos dos vários níveis narrativos que estruturam o texto, assegurando a coerência visual do volume. Revela, ainda, particular atenção ao universo natural, revisitando-o e recriando-o poeticamente, sempre fiel às subtilezas do próprio texto e às diferentes experiências do espaço que são convocadas.

Em termos de literacia ecológica, esta obra focaliza a experiência humana, sincrónica e diacrónica, em articulação com o espaço do Vale do Côa. A apreensão do meio é significativamente marcada pela fruição pessoal, pela avaliação da beleza dos espaços, mas também por uma ideia de sustentabilidade nos modos de vida. Ainda que adote uma perspetiva antropocêntrica, não deixa de oferecer ao leitor uma visão tendencialmente harmónica da relação homem-meio, com alguma noção de interação e interdependência, assim como a possibilidade de questionamento sobre os fundamentos dessa relação.

Ramos, R. & Ramos, A. M., 2010 

Atualizado em 17 MARÇO 2022
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