Primeiro volume da coleção "Biblioteca Infantil", das Edições Nelson de Matos (ver Tubarão Dentadinha e Serrote e Raspadinha. Uma história de amor e música), este livro inaugura uma série de narrativas dedicadas à defesa da vida animal nos seus habitats naturais, em liberdade. Protagonizada por dois caranguejos que se vêem capturados e são oferecidos a dois irmãos, a ação dá conta da forma como os dois animais, tristes por se verem limitados ao espaço de um balde, conseguem regressar ao local de onde são originários e, novamente, voltarem a saborear a liberdade. Apelando, sem moralismos, a um olhar mais atento sobre o que nos rodeia, incluindo os pequenos animais com os quais partilhamos o planeta, o livro, através do recurso à personificação, permite aos leitores identificarem-se com as personagens e com os problemas que elas vivem. Não deixa de traçar um perfil dos caranguejos marcado por antropocentrismo, configurando-os à imagem dos humanos no que respeita aos sentimentos e à sua inserção social: os animais "gostavam muito de brincar às escondidas", "não apreciavam os bocadinhos de pão e fiambre" oferecidos pelos dois irmãos, "pareciam um pouco tristes" no fundo de um balde de praia, tinham "saudades de casa", e até se relacionavam com "pais", "irmãos" e "primos caranguejos", à imagem dos humanos. Contudo, essa relativa antropomorfização poderá facilitar a compreensão dos jovens leitores a que a obra se destina. A sua leitura acompanhada ou mediada por um adulto tem o potencial de questionar algumas práticas comuns face a estes animais e ao ecossistema marinho, relativamente às quais o gesto individual é fácil e impactante.

Às ilustrações, que apostam no tratamento digital das imagens, falta alguma capacidade comunicativa e, até, um trabalho mais demorado do ponto de vista estético.

Ramos, R. & Ramos, A. M., 2010