Professor, jornalista e escritor italiano, Gianni Rodari é sobretudo conhecido pela sua obra Gramática da Fantasia, publicada na década de 70 do século XX e onde apela à valorização da criatividade das crianças em contexto educativo. Nos seus livros para crianças, a imaginação e a ludicidade ocupam lugares determinantes, assim como a exploração das possibilidades da linguagem, alvo de especial atenção.

No caso de O Que É Preciso?, estamos perante um livro em que o texto, construído como um jogo, segue uma estrutura paralelística, encadeando uma sucessão de perguntas e respostas que visam descobrir a relação entre a matéria-prima e o resultado final que é produto criado pelo homem. Assim se descobre que, para fazer uma mesa, é preciso uma flor, numa cadeia de relações onde a Natureza ocupa um lugar de destaque. De alguma forma, e com recurso a algum humor, o texto aponta para a origem natural dos produtos que usamos, mesmo os mais simples ou mais banais, apresentando a natureza como uma espécie de origem das coisas que tem de ser reconhecida e, em última instância, valorizada e protegida. Sem defender explicitamente o desenvolvimento sustentável, este volume carateriza-se pela forma como dá a conhecer a evolução da natureza e a sua transformação de acordo com os interesses e as necessidades humanas. As ilustrações desempenham um papel relevantíssimo na publicação, dada a contenção do texto. Explorando a dupla página como unidade de sentido, recriam o circuito que o texto constrói, acrescentando muitos elementos visuais que completam e complementam a informação verbal. Com recurso ao recorte e colagem de diversos elementos visuais, as ilustrações sugerem texturas e volumes particularmente expressivos, abrindo consideravelmente as possibilidades de interpretação. A dimensão do volume e a mancha gráfica, construída como uma imagem também, são outros pormenores que sublinham a qualidade deste volume.

Pode, portanto, ver-se neste ponto de vista uma conceção utilitarista da natureza, como simples recurso ao dispor do homem. Contudo, há também mérito no desvendar das redes de relações existentes e desvendadas entre a matéria-prima e os objetos do quotidiano, na cadeia mesa - madeira - árvore - semente - fruto - flor, o que permite alargar a consciência dos leitores quanto à dependência do homem face ao meio em que se integra.

Ramos, A. M. & Ramos, R., 2011