Joana Serpentina
Joana Serpentina é
uma cobra-d'água que habita num ecossistema específico, no rio
Mondego. Contrariando o estereótipo da cobra, esta personagem é
descrita como vítima inofensiva e indefesa e não como um predador
agressor e perigoso. Trata-se de uma pequena cobra, motivada por
sentimentos decalcados dos humanos e partilhando com estes alguns
dos seus dilemas existenciais - nomeadamente, a sua solidão e a
falta de quem gostasse dela. Contudo, a sua bondade é tal que acaba
por salvar uma ave da perseguição de um caçador, o que lhe permite
criar uma amizade que durará ao longo das suas vidas.
Esta narrativa desenvolve-se, nitidamente, numa tentativa de resgatar a figura da cobra, símbolo de boa parte do que é negativo e perigoso, questionando essa categorização consolidada e procurando inverter a polaridade da avaliação. Contudo, o texto é largamente marcado por uma visão antropocêntrica, classificando as cobras em boas e más, no que parece ter sido a forma elementar de apresentar à criança leitora a diferença entre cobras efetivamente perigosas para o ser humano e as que são inofensivas, num exercício de simplificação algo excessivo - ou talvez necessário, dadas as expectativas de limitada experiência de vida do leitor que a obra elege. A sua intenção é clara: a de motivar a reflexão sobre o quadro conceptual típico associado às cobras, promovendo a sua aceitação como mais um elemento natural dos ecossistemas e contribuindo, desta forma, para a ecoliteracia dos jovens leitores preferenciais desta história.
As ilustrações, não apresentando pretensões de cientificidade, colaboram na identificação das várias espécies animais e vegetais, recriando minimalisticamente os ecossistemas referidos no texto. Claramente destinadas a pequenos leitores, as imagens aliam uma vertente mais realista com outra mais fantasiosa, personificando os animais, configurando-os favoravelmente. Não sendo o aspeto mais conseguido da publicação, as ilustrações chamam a atenção pelo colorido e pelo recurso à variação cromática, enquanto promovem a empatia com a personagem principal.
Ramos, R. & Ramos, A. M., 2011