Onda

Onda é o título de um álbum narrativo da autoria da coreana Suzy Lee, constituído exclusivamente por imagens (à exceção do título, manuscrito pela autora para a edição portuguesa) e já diversas vezes premiado (Prémio do New York Times para o Melhor Livro Ilustrado para Crianças em 2008 e a Medalha de Ouro da Sociedade dos Ilustradores Americanos no mesmo ano), destacando-se pela expressividade das suas ilustrações.

Neste álbum, sobressai desde logo o formato que, para além de proporcionar imagens panorâmicas, explora o significado simbólico da linha de divisão das páginas duplas. Estas recriam o diálogo entre os elementos naturais e uma criança que, estando na praia pela primeira vez, parece medir forças com o mar e acaba por ser surpreendida por ele. A técnica utilizada assenta no jogo entre as cores, o preto e o cinzento do carvão para representar os elementos terrestres e a cor azul para o mar.

Em termos de organização narrativa, o álbum propõe ao leitor a observação de um jogo de forças que se enfrentam, com visíveis variações, ao longo de 12 duplas páginas (a décima segunda é dominada pelo azul, deixando implícito que a criança está debaixo de toda a água), seguidas de mais cinco onde, depois do confronto, a criança convive com o mar de forma pacífica e deslumbrada. A variação entre os dois grupos é expressa pela cor azul que, na primeira parte, se restringia ao elemento marítimo e que, depois, passa a colorir o céu e domina de forma intensa as páginas, simbolizando o encontro e a comunhão dos elementos. Cada uma das onze duplas páginas que antecede o "mergulho"/"banho" exprime uma emoção diferente na aproximação da criança, simulando o jogo de descoberta e, em última instância, metaforizando o próprio processo de aproximação afetiva ao outro.

Esta descoberta da personagem, também sugerida ao leitor da narrativa, tende a configurar o meio onde a cena se desenrola não somente como um espaço indiferenciado onde se movem os seres vivos - a conceção mais básica do "meio" - mas orientando-se para a conceção deste como espaço biorrelativo, onde existe interação entre os diversos fatores e seres vivos que o integram. Naturalmente, o desenho de meio biorrelativo não é ainda aqui atingido na sua plenitude, mas a presença de interação, efetiva e simbólica, é fundamental para uma aproximação a essa conceção. Os elementos naturais não são simplesmente dominados pela criança, mas possuem um poder e, quase poderia dizer-se, uma vontade própria. Não deixando de ser marcada por algum antropocentrismo, a perspetiva adotada não é exclusivamente utilitarista, mas manifesta a dependência do indivíduo face ao meio natural onde se move, e a sua impotência para o dominar de acordo com a sua vontade.

A representação de um mesmo espaço em todas as imagens, como as dunas em segundo plano permitem constatar, facilita a leitura das imagens como uma sequência temporal, quase coreografada em termos de movimentação cénica. A aproximação ao discurso fílmico resulta do facto de a tomada de imagens ocorrer de um ponto fixo, capturando todo o movimento que ocorre à sua frente.

Ramos, A. M. & Ramos, R., 2010 

Atualizado em 17 MARÇO 2022
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