L segredo de peinha campana

Esta obra encontra-se integrada na coleção «Pintar o verde com letras», resultado de uma iniciativa da Direção Regional de Cultura do Norte, «que lançou a um conjunto de escritores e ilustradores o desafio de criarem histórias que tivessem algumas das áreas protegidas daquela zona do país como lugares de inspiração e os seus habitantes, a sua fauna e flora como personagens» e que assumiu explicitamente a intenção de contribuir para o desenvolvimento cultural e a literacia ecológica dos leitores.

A área eleita como cenário, neste caso, é o Planalto Mirandês, um espaço resultante da interação entre múltiplos elementos naturais, entre os quais se conta o homem. A obra evoca uma narrativa tradicional, em torno de um afloramento rochoso, a Penha Campana, assim chamada por se tratar de uma rocha (uma "penha", ou "pena") e estar associada ao som de um sino (ou "campana"), e encontra-se redigida em Mirandês, por razões óbvias. Contudo, o leitor encontrará, no seu final, uma versão em Português.

Nesta narrativa, a diegese acompanha alguns momentos da vivência, ao longo dos anos, de uma personagem feminina, Isabel, que descobre aquele espaço e com ele se identifica. É introduzido um elemento mágico, um ser fantástico que viveria no interior da rocha e se fazia ouvir em momentos especiais, uma criança esquecida pelos seus e que desde tempos imemoriais se abrigaria naquela pena, alimentando-se do que o ar lhe trazia. Contudo, quando a heroína o encontra (ou com ele sonha), essa criança desfalecia, por o ar trazer "fumos, maus cheiros, mais veneno que comida". Em resposta a um pedido seu, Isabel mobilizou os habitantes locais e desenvolveram uma ação de luta contra a poluição que permitiu que a criança misteriosa recuperasse.

A obra não se notabiliza pela originalidade, pela qualidade literária ou pelo contributo profundo para a literacia ecológica dos leitores. As ilustrações dificilmente colaboram na valorização da obra, revelando limitações técnicas e artísticas, mesmo se lidas à luz de uma certa influência naïve. Contudo, esta narativa encerra alguns aspetos interessantes na construção de uma relação equilibrada entre homem e meio, assumindo que o espaço cénico onde a diegese se desenrola resulta da ação do homem e dos elementos ao longo de milénios, uma relação sustentável e integrada, configurando o homem como mais um dos usufrutuários do planalto, ao lado de outros construtores do mundo. E, sobretudo, ainda que sem especificar ou aprofundar o assunto, sublinha que os habitantes "sabiam que as vidas de uns dependem das vidas de outros. Ou se salvavam todos ou todos morreriam".

Ramos, R. & Ramos, A. M., 2010 

Atualizado em 17 MARÇO 2022
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