A tartaruga redondinha

Esta narrativa, de estrutura linear e acessível aos pequenos leitores a que se destina, organiza-se em torno do nascimento e primeiros tempos de vida de uma tartaruga marinha. É de tal forma sintética e minimal, que dificilmente se pode dizer que narra as peripécias vividas pela personagem, mas é possível identificar alguns elementos estruturantes das narrativas breves. A trama desenrola-se segundo uma sequência cronológica, contemplando vários episódios: o nascimento da tartaruga, o risco de ser comida por uma gaivota, a busca do seu espaço natural e o encontro com um velho pescador de tartarugas.

O mais relevante desta obra é a clara tentativa de aproximação, pela imagem, pela linguagem e pela diegese, ao leitor previsto.

Para atingir esse efeito, recorre-se a frequentes diminutivos ("tartaruguinhas", "lua baixinha", "devagarinho", "ninho fresquinho", etc.) e à referência a personagens, espaços ou circunstâncias tipicamente associadas à segurança e ao conforto infantis. A narrativa começa com a mãe dirigindo-se às "fofas areias da praia" para fazer o seu ninho e lá depositar os seus "ovinhos"; esta sente-se embalada pelos "barulhinhos do mar que faz cócegas na areia"; o ninho fica "seguro e quentinho". A evocação retórica de todos estes elementos orienta-se para a construção de um espaço ameno, que a criança pode reconhecer: tipicamente, do seu universo, faz parte a mãe, o prazer de tatear a roupa macia, o afago das cócegas, a harmonia da voz materna. A gaivota, perigosa, personagem do espaço alheio (o ar), ficou para trás e a tartaruga encontra as personagens amistosas do seu espaço (o mar), com quem interage.

Também as ilustrações colaboram na recriação deste universo, valorizando mais as componentes afetiva e lúdica do que a preocupação com a reconstituição de habitats ou espécies animais. Com recurso ao recorte e à colagem de papéis diferentes, a criadora constrói um ambiente visual claramente acessível, permitindo a identificação das personagens e colaborando na cristalização dos vários episódios da ação.

No final, a personagem encontra um velho marinheiro que, envergonhado, confessa que já foi pescador de tartarugas, mas que lhe assegura que não tentará apanhá-la. E a narrativa termina com a referência à concretização do ciclo da vida, anunciando que, um dia, esta tartaruga voltará à praia onde nasceu para lá deixar os seus ovos, "como a mãe tartaruga fez um dia".

Do ponto de vista da promoção da literacia ecológica, é interessante notar a estratégia de aproximação afetiva do leitor à personagem e a explicação simples do processo de nascimento das tartarugas. A noção de ciclo da vida está presente e a referência ao velho pescador de tartarugas constitui um pretexto óbvio para o mediador de leitura promover a reflexão acerca da necessidade de preservar as espécies, em particular as mais ameaçadas.

Ramos, R. & Ramos, A. M., 2011 

Atualizado em 17 MARÇO 2022
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