João e o pardalito de bico amarelo
Este breve narrativa ilustrada define o seu segmento
temporal em torno do Natal. Uma das personagens é um menino, o que
propicia uma fácil identificação com o leitor; outra é um pardal.
Ambos se encontram quando o menino está num pinhal a cortar um
pinheiro para levar para casa e lhe servir de árvore de Natal. O
pardal, importunado mas decidido a não ser desalojado sem dar luta,
resolve não abandonar a árvore que era a sua casa e segue-a até onde
o menino a transporta. É assim que começa a habitar um pinheiro de
Natal, mesmo com decorações e dentro da casa de uma família.
A estranha situação leva o menino e sua família a reconhecerem que a ave tem direito ao seu habitat e, apesar de nada poderem fazer para repor o estrago, decidem que, no ano seguinte, não abaterão um novo pinheiro, mas comprarão um artificial e deixarão os naturais na natureza.
A circunstância retratada pela narrativa constitui um quadro conceptual conhecido ou vivenciado por muitas famílias. A moralidade é bem explícita e contribui para a reflexão sobre a opção comum, enraizada na tradição, de abater ou comprar um pinheiro para comemorar o Natal, em paralelo com a alternativa de usar um artificial, preservando a natureza. Conferindo a esta questão um caráter afetivo, pela presença do pardal desalojado, incarnação da natureza agredida, esta narrativa tem o potencial de tocar os leitores mais jovens e de, através deles, intervir nas práticas sociais.
As ilustrações e o grafismo da publicação contribuem
para a identificação dos leitores com o universo narrativo
construído. Com recurso a uma técnica mista que combina a fotografia
de bonecos modelados e dos cenários, sugere-se uma
tridimensionalidade que, apesar de aparente, permite reconhecer
personagens em ação. Muito coloridas e expressivas, as ilustrações
das páginas ímpares são ainda completadas com apontamentos gráficos
nas páginas pares, emoldurando o texto e tornando-o, por ação das
imagens, mais leve e menos denso.
Ramos, R. & Ramos, A. M., 2011