Popville
Popville é o exemplo do livro pop-up onde a imagem,
explorada na sua tridimensionalidade, consegue construir uma
narrativa sem recurso ao texto. A sucessão de imagens recria uma
relação temporal, sugerindo a construção paulatina de uma cidade,
através da transformação do espaço rural em urbano. À medida que as
páginas vão sendo voltadas, as casas e as construções humanas vão
ocupando mais espaço e crescendo em dimensão e em volume, até
ocuparem completamente a dupla página e, finalmente, ainda
ultrapassarem esse limite, com a abertura das abas laterais na
última dupla. Os espaços verdes, por seu turno, diminuem ao mesmo
ritmo em que a cidade cresce, sendo rapidamente substituídos por
construções cada vez maiores e mais altas, ilustrando, dessa forma,
a crescente ocupação dos ecossistemas naturais pelo homem. Ainda que
o paratexto final que enquadra a publicação seja, sobretudo, uma
exaltação à construção da cidade como símbolo do progresso, ponto de
encontro de pessoas, e destaque, de forma eufórica, o seu movimento,
energia, desenvolvimento e riqueza, a verdade é que a observação da
sequência das imagens que arquitetam o álbum apela também a uma
outra leitura possível, a de que a construção de alguma coisa se faz
sempre às custas de outra que existia em seu lugar e não, em si
mesma, um bem absoluto. Ao dar conta de um processo, a narrativa
permite o questionamento e a reflexão sobre a forma como é feito,
podendo desenvolver o espírito crítico dos leitores e, sobretudo, a
capacidade para ler além das aparências. As imagens, apesar da
elaboração gráfica, são simples e recorrem a formas e a cores
básicas, apelando ao reconhecimento e identificação imediatos por
parte dos leitores. De qualquer forma, estamos perante um livro que
ultrapassa claramente a dimensão de objeto-brinquedo que,
habitualmente, é associada aos pop-ups.
Ramos, A. M. & Ramos, R., 2011