Antologia poética que toma como mote o universo animal, como o subtítulo "Bestiário para as crianças" permite perceber, constituída por um conjunto de breves (ou muito breves) textos organizados alfabeticamente. Na sua maioria são perfeitamente identificados com poemas, ainda que alguns se apresentem sob a forma de prosa poética ou se aproximem do modo narrativo, assumindo a forma de microcontos ou microrrelatos.

Os textos evocam elementos da fauna, recriando-os, por vezes elaborando sobre o significado / referente, outras sobre o significante, frequentemente com uma poeticidade e um lirismo desconcertantes. O olhar simultaneamente encantado e também questionador do sujeito poético confunde-se com a visão deslumbrada da criança perante a novidade e a diversidade dos animais. O jogo com os significantes, na sua vertente gráfica e sonora, é uma das linhas poéticas que o autor vem percorrendo desde há muito, sugerindo que, afinal, a palavra parece ser uma propriedade intrínseca da coisa... Este jogo nem sempre é imediatamente produtivo em termos de compreensão ecológica dos animais evocados, configurados de forma deslocada e descontextualizada. Contudo, algum do jogo de palavras e conceitos só é descodificado se forem (re)conhecidos alguns dos traços caraterísticos dos animais chamados a integrar este bestiário. Privilegia-se aqui claramente, portanto, as vertentes estética e lúdica da literatura para a infância, em detrimento de alguma eventual preocupação formativa.

As ilustrações de José Feitor, muito contidas e simples, complementam os textos, sublinhando o relevo da dimensão animal no livro, procurando manter-se identificáveis e fiéis às referências que as inspiram. Destaque-se a original imagem da capa e, em geral, o cuidado design de todo o volume.

Ramos, A. M. & Ramos, R., 2010